quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Mona Lisa Budel:"Sobre a Ocupação em Taió"


A escritora Urda Kuegler nos envia:


Poema de Mona Lisa Budel

ubject: Sobre a Ocupação em Taió

Com sede de chão, agarrem-se as enxadas ...

Com medo de gente, costuram-se os muros ...



Povo tomado, povo roubado, povo invadido, povo ocupado



Estão ali os tantos netos de gerações passadas de um povo que se disse europeu.

Estão ali os tantos descendentes de um povo irmão pelo sangue de mesuras e misturas



Quem eram os estropiados retirantes de uma Europa decadente ?

Quem nessa terra desembarcou através do sertão atlântico ?

Quem aqui chegou, sem terra, sem chão, sem nação ?

Quem somos os sem-terras ?



O povo Xokleng, não nos atirou ovos ...

O povo Guarani, não cercou os mares

Parte de nosso sangue ocupou um pedaço de vale

E estão ali os filhos adotados por esta terra



Ovos nas mãos



Entenda-se, não é oferta

Não é festa

Não é colheita

Não, terra !



Não terra, não sementes, não povo



Apedrejam, sem entender.

Pensam sua a terra que pode ser de muitos

Terra sem nada, mulher grávida cheia de ventre vazio

Usucapião tomado, num tempo sem sentido

Defendem o nada com ovos na mão

Sujam a terra com ovos sem galinha

Quebram ovos vazios contra si !



Entenda-se esse povo

Explique-se



Que terra não é pra ser cerca

Que terra não é pra ser enterrada

Que terra sem sementes é terra pra ser nova

É chão pra ser ventre vivo



Lembre-se

Que o povo que pensa que é dono dessa terra

Chegou aqui com a sujeira dos porões dos navios

Chegou aqui, também sem-terra, sem-teto, sem-nada



Guardem os ovos



Abra-se a terra

Divida-se o ventre, tantas vezes tomado para o nada

Abra-se o útero

Que o povo tem sede de chão

E sementes nas veias







mona lisa budel

Explique-se

Em audiência conciliatório no Fórum de Taió, Alto Vale de Santa Catarina, se definiu que os trabalhadores que estavam ocupando áreas improdutivas na fazenda Mato Queimado, seriam encaminhadas para o assentamento na cidade de Santa Terezinha.
No pátio do Fórum, mais de 400 trabalhadores do município. O comércio parou e as fábricas da região fretaram ônibus para levar os funcionários para frente do Fórum. Sem argumentos e sem a consciência de estarem apenas sendo usados, estes trabalhadores, gritavam contra os campesinos, jogando ovos e pedras.



Guardem os ovos!



Os Trabalhadores do MST eram cerca de 50 pessoas.

Trabalhadores, pedindo apenas um espaço, o direito de terras para plantar.







Mona Lisa Budel

www.monalisabudel.blogspot.com

Um comentário:

CoNtOs VeRsOs & PrOsA disse...

Olá!

Boa Noite!

Ao receber um e-mail da Clevane Pessoa e ver esse seu Poema me lembrei do trabalho que desenvolvi aqui em Belo Hotizonte como Diretor Artístico de Rádios Comunitárias e semplemente fiquei encantado e se me der licença repassarei e colocarei no meu blog... afinal essa sua consciência social e poética tem que estar no ar e sempre, para lembrar a todos que realmente tens razão quando diz: " Quem eram os estropiados retirantes de uma Europa decadente ?

Quem nessa terra desembarcou através do sertão atlântico ?

Quem aqui chegou, sem terra, sem chão, sem nação ?

Quem somos os sem-terras ?

Parabéns e até breve! Que a Luz de cada dia a encontre por inteira!

Frnando Barbosa