sábado, 29 de setembro de 2007

Eliane Potiguara:"A palavra da Mulher é sagrada"(Cacique Aniceto Xavante)




Aprecio demais a luta perene e corajosa de minha amiga,a escitora Eliane Potiguara.Autora do belo "Metade Máscara, Metade Cara", preside o Grumin(*) e com pulso e flexibilidade a um só tempo.Representa as nações indígenas, as etnias, incansável, em seminários, encontros que acontecem no Brasil e em outros Países.




É Poeta, da REBRA,Cônsul de Poetas del Mundo .Onde houver um espaço, um portal, uma janela, onde deva passar a questão indígena, em partes e no todo, ela aí estará.




Ofereci-lhe meu livrinho "A Indiazinha e o natal", um poema baseado em muma história real,ainda em edição do autor, e quando sair a edição plena, ser-lhe-á doada, em prol de sua entidade.




De seu site, recolho ,da urupema(*) de sua inspiração prolífera, o lindo texto abaixo e ainda a belíssima foto, pois, há tempos, sou autorizada por ela a divulgar o que for preciso.



"A Palavra da Mulher é sagrada como a terra” frase proferida pelo Cacique Aniceto Xavante na Conferência de Mulher Indígena e Meio-Ambiente/1991/promovida pelo Grumin. ( foto da reunião de mulheres indígenas)"



COMPROMISSO COM A CULTURA E ESPIRITUALIDADE INDÍGENA





Eliane Potiguara





"A coisa mais bonita que temos dentro de nós mesmos é a dignidade. Mesmo se ela está maltratada. Mas não há dor ou tristeza que o vento ou o mar não apaguem. E o mais puro ensinamento dos velhos, dos anciãos, partem da sabedoria, da verdade e do amor.




Bonito é florir no meio dos ensinamentos impostos pelo poder. Bonito é florir no meio do ódio, da inveja, da mentira ou do lixo da sociedade. Bonito é sorrir ou amar quando uma cachoeira de lágrimas nos cobre a alma! Bonito é poder dizer sim e avançar. Bonito é construir e abrir as portas a partir do nada. Bonito é renascer todos os dias. Um futuro digno espera os povos indígenas de todo o mundo.




Foram muitas vidas violadas, culturas, tradições, religiões, espiritualidade e línguas. A verdade está chegando à tona , mesmo que nos arranquem os dentes! O importante é prosseguir. É comer caranguejo com farinha, peixe seco com beiju e mandioca. É olhar o mar e o céu. E reverenciar os mortos, os ancestrais. É sonhar os sonhos deles e vê-los. É conviver com as "manias de cabôco", mesmo sufocados pela confusão urbana ou as ameaças agrestes, porque na realidade são as relações mais sagradas de nosso povo, porque são relações com a terra e com o criador, nosso Deus Tupã.




Bonito é vestir os trajes do Toré e honrar-se como se vestira os trajes dos reis e senti-los como a expressão máxima das relações entre o homem , a terra e Deus. É sentir o sagrado e o universo. O importante é crer e confiar mesmo que na noite anterior violaram nossa casa ou nosso corpo. É preciso ouvir os velhos, o som do mar, dos ventos. É preciso a unidade entre as famílias, por isso pedimos a Tupã que nos proteja e dê um basta ao sofrimento secular de nosso povo comedor de mandioca. Pedimos à força superior, que nossos pensamentos se elevem aos mais profundos planos sagrados da espiritualidade indígena, junto aos velhos, aos curandeiros, aos velhos pajés apagados pelo poder, mas renascido como FORÇA, pela consciência do povo.




Pedimos que nossos espíritos se elevem ao mais sagrado da sabedoria humana e receba a irradiação do amor, da paz e do conhecimento à todas as nossas cabeças indígenas e de outras etnias e povos, transformando todo pensamento discordante , conflituoso em pensamento de paz, que construa a unidade entre todos os seres do planeta Terra.Que possamos construir a partir de agora, uma grande frente de energias, apoiada por todos que lêem esse compromisso, para garantir a dignidade de povos abandonados , condenados à extinção.




Não! Não podemos admitir a derrota. Há jovens, crianças sorrindo, há mar, há sol, há esperanças. Há espiritualidade! Basta que soltemos as amarras do racismo impostos ao nosso subconsciente, esse inimigo que divide o nosso povo.Abramos a porta. Entremos. Nossos velhos nos esperam para a cerimônia da paz e da luz inquebrantável.Um grande marco se está colocando aos anciãos, aos guerreiros, nossos avós, nossas mães, defensores eternos da terra e da natureza.





Vamos meu povo, elevemos nossos pensamentos à Tupã e abramos o nosso coração na "Oração pela Libertação dos Povos Indígenas", pelos 300 milhões de indígenas que habitam o planeta terra. E pensemos na frase sábia do cacique Xavante Aniceto: " A palavra da mulher é sagrada como a terra".





Eliane Potiguara


Textos do livro “METADE CARA, METADE MÁSCARA” Global editora




(*) Urupema:peneira de palha.


Endereço, para voc~e conhecer mais seus textos ,fotos e seu trabalho:




Maninha Xucuru,Canto


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Canto para Maninha Xucuru




Etelvina,anos pássaros passando
e você, com a ousadia de menina,voava a proteger espécies
e ninhadas de etnias.
Guerreira,agora você voa invisível
em bolsas de ar quente,sem bater asas, sem tatalares
que denunciem sua presença…
Mas seus manos, maninha,
seus manos indígenas,pressentem e percebem sua presença
sempiterna,sempre terna,ternamente corajosa …
Viva nos lembrares,airosa nos ares,
sentinela a plainar,continue a velar por seus pares,
para que a raça brasileira genuína
não possa nunca se acabar…

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

http://www.clevanepessoa.net/blog.phpclevaneplopes@gmail.com


Foto enviada por Brenda Marques, do Imersão latina, no Dia do Índio.

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autor e o link para o site "www.sitedoautor.net(Clevane pessoa de araújo lopes;(www.clevanepessoa.net/blog.php)). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.Canto para Maninha Xucuru2007Recanto das Letrasclevane pessoa de araújo lopes
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Kususu Ambá


>> ÍNDICE
27/09/2007 22h48
Conselho Indigenista Nacional comenta e repudia "julgamento"de Kususu Ambá



Kususu Ambá: mais um julgamento político?




> >> >> >> > "Quatro lideranças Kaiowá Guarani, presas enquanto iam buscar comida para> seu povo após a retomada de seu tekoha (terra tradicional), acabam de ser condenados a 17 anos de prisão pelo juiz em substituição César de Sousa Lima, da 2ª. Vara de Amambai, Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai.


> >> >> > > > Conforme depoimento de várias pessoas que estiveram lá por ocasião da prisão, esta ação teve participação de fazendeiros, e, na ocasião também foram presas várias crianças e mulheres, posteriormente liberadas.


Conforme os depoimentos, o crime dos indígenas foi acreditar nas palavras do> representante de um dos fazendeiros e caírem, assim, na armadilha> maquinada por estes para justificar suas ações violentas e criminosas, onde assassinaram covardemente a Guarani Julite Lopes, de 73 anos, e feriram outro indígena.


Conforme juristas, a condenação a 17 anos de prisão é um absurdo. O crime que eles cometeram é serem índios, pobres e estarem lutando por seu pedaço

de terra num estado onde 32 indígenas foram assassinados desde janeiro de> 2007.


A sentença do juiz, com quase nenhuma fundamentação, está permeada de interpretações prejudiciais aos acusados e não reconhece a identidade indígena destes: o juiz sequer aplicou a legislação específica para> > indígenas acusados de crime (Art.56 do Estatuto do Índio).Perguntamos: por ter ocorrido a prisão na luta efetiva pela terra> indígena, não é de competência da justiça federal o julgamento de tal tipo de ação? Por que a justiça é tão ágil em condenar índios, mas não julgou econdenou nenhum dos assassinos de dezenas Kaiowá Guarani assassinados na luta pela terra nos últimos anos, como Marçal, Marcos Veron, Dorival e Dorvalino?


> >> >> >> > E no caso de Julite, assassinada um dia após as prisões, em Kususu Ambá? Por que o inquérito ainda se arrasta e talvez leve vários anos até que os assassinos sejam julgados e, talvez, punidos? E ainda o assassinato de> Ortiz Lopes, da mesma terra indígena, há poucos meses?



> >> >> >> > No momento em que a Organização das Nações Unidas (ONU) aprova a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas e o presidente Lula anuncia a demarcação das terras indígenas até o final de seu mandato, vemos mais um exemplo lamentável de criminalização de lideranças indígenas na luta pelos seus direitos, especialmente à terra.


>>>>> >> > Causa indignação e revolta a condenação de indígenas a 17 anos de prisão> por> > estarem lutando pela sua terra.



> >> >> >> > Brasília, 26 de setembro de 2007> >> > Conselho Indigenista Missionário


(a autoria da nota dos indígenas do MS é o do Cimi Nacional.
A sede é em Brasília,DF)


Publicado por Clevane Pessoa de Araújo Lopes em 27/09/2007 às 22h48.Recebido através da Escritora e pesquisadora Urda Klueger("Recebi de uma companheira dos Movimentos Sociais chamada Irmã Beatriz. Vou fazer uma ponte entre vocês duas").
> Urda..



Sim , claro, tenho muita simpatia por vc, a partir de seu nome e acompanho o que escreve.
Morei no Norte e Nordeste e, em pequena, conheci os índios na Amazônia, adulta, no MA e no PA...
Consta que uma tataravó era índia.Sou potiguar, radicada em BH.MG -e adoro História,gosto de pesquisar.Mas , de qq forma, brasileiros devem despertar para essa questão indígena.
Um abraço:Clevane clevaneplopes@gmail.com


Urda:Acabo de enviar para pessoas interessadas na questão indígena, inclusive, do México.Clevane
Em 27/09/07, urda <urda@flynet.com.br> escreveu:

(...)Fico contente demais por ter descoberto mais alguém interessado na causa indigena. Sou historiadora, pesquisadora de história pré-colonial. Temos que trocar mais figurinhas.
Urda.




As Índias, Nossas Mães(Lázaro Barreto).





Lázaro Barreto:"As Índias, Nossas Mães"





O prolífero autor de Divinópolis, onde florescem poetas, enviou-me há algum tempo, esse expressivo e belo texto abaixo, um tributo às origens indígenas dos brasileiros.Hoje, decido postá-lo, pois há oito minutos, já é o Domingo das Mães.






"AS ÍNDIAS, NOSSAS MÃES - Lázaro Barreto.




A simples proximidade do branco portando suas doenças imanentes e crônicas (a sarna, a coriza, o macuco, a furunculose, a gripe, a enxaqueca, a tuberculose) contagiava o selvícola– e o que no branco às vezes não passava de um incômodo, ao índio era uma sentença de morte. E desde logo ele percebeu que não podia respirar o mesmo ar do adventício permanentemente infectado. A contaminação dizimadora começou assim, involuntariamente, mas depois, interessando ao branco a ausência do incompatível irmão no raio de suas ações, as doenças passaram a ser aviadas como receitas biológicas através principalmente dos vírus da varíola e do sarampo. Estas e outras doenças eram então repassadas pelos colonizadores através de roupas e objetos pelas pessoas portadoras dos males, repassadas como presentes de grego aos incautos.




Aí a "coisa" pegava: um índio contaminado transmitia a doença a toda tribo. Foi um dos maiores genocídios da história da humanidade: de uma população estimada de seis milhões em 1500, hoje sobrevivem apenas cerca de trezentas mil - e sabemos que a tendência demográfica é, desde sempre, aumentar muito e nunca diminuir tanto.




O milho a mandioca a batata o guaranáo conhecimento da flora e da faunaas técnicas de subsistência agrícolas e artesanaisa culinária baseada nos bens de raiz da terra ,a medicina rústica, a rede de dormiras danças e folguedos, as artes marciaisa identificação telúricaa não-acumulação dos bens de capital...:seria o Brasil uma nação principalmente indígena? Seriam os índios superiormente civilizados antes de pisarem o torrão novomundista então asselvajado?




Berta G. Ribeiro, (no livro "O Índio na Cultura Brasileira"), estudiosa da aplicação cultural indígena, cita outros estudiosos propensos a avalizarem essa possibilidade do milenar transplante de plagas asiáticas em remotas épocas da imemorial (?) civilização humana.




O corpo desnudo os pés descalços a pisara rodilha de cobra e nos estrepes e espinhosos ganchos de forca no matareuas unhas de gato as folhas repelentesas moscas os insetos as sanguessugasa pele tenra cobrindo o sangue quentea carne os nervos as vísceras os pêlosos porosas cicatrizes dos ramos e vergões do sol-e-chuvana ventania na geada...qualquer momento feliz no entanto eramais longo.A nudez apetecia?, descrentava?a água do rio sim era uma cachoeiraa penicar na libidomuito mais do que na redemuito mais do que na gramaa cópula era uma das refeições da almahoras depois o corpo agradecia no sonoespichado a deus-daráno amalucado sonho do que será-serádo bem e do melhormomentaneamente palatável.Escapando aqui e ali do fragor atmosférico, da avalanche das águas, dos mundéus e alçapões da própria vegetação, dos répteis peçonhentos e dos animais ferozes, eles folgavam nos crepúsculos das manhãs e das tardes e nas noites enluaradas e dias ensolarados das savanas, montanhas, florestas, clareiras, fontes, cachoeiras e cursos de água limpa e doce: o solo permeável e sempre recobertoo cultivo itinerante: a recaptura dos nutrientesa interromper a propagação de pragas, a mantera pluviosidade e a insolação como fertilizantesaéreos...




A domesticação das plantas é a maior e a melhor herança cultural deles. Só para se ter uma idéia aí vai a menção das mais conhecidas: abiu mapati sapota pupunha abacaxi cipó-babão milho feijão mandioca batata cará inhame mangará ária amendoim fava banana taioba pimenta mamão abacate maracujá biriba cacau goiaba graviola toá muari ingá miriti pequi jatobá tabaco urucum algodão cabaça abóbora junco coca basbato paricá maracujá melão açaí pacoba araçá gabiroba bacopari mamacadela jabuticaba cagaiteira pitanga ameixa uva cravo canela cravina beterraba espinafre alface couve cardo nabo rabão boldo mostarda cebola melancia castanha jaca centeio trigo hortelã poejo alfavaca seguelha guandu cana fistula baba-de-boi lentilha ervilha alho quiabo lúpulo tamareia romeira marmelo laranja jiló lima limão mexerica sândalo berinjela incenso coentro cenoura funcho amor-deixado salsa cebolinha tomate lobeira arroz algodão caroá erva-mate pinhão babaçu ou pindoba butarrei erva-cidreira sassafrás piteira manga cereja algodãozinho murici amburana cana de açúcar chapéu-de-couro coité mogango japecanga ananás cidra losna catuaba moranga jambo articum negramina paineira figo pêssego bilosca cariru repolho orapronóbis samambaia gravatá mamona jurubeba mentrasto bambu,cipós de são joão e de timbó embiras couve funcho:plantas e mais plantas cultivadas nas apropriadas das matas e campos e cultivadas nas apropriadas cercanias domésticas e usadas dias e noite na alimentação, na construção de moradias, nos meios de transporte, nos utensilhos domésticos e de trabalho, nos corantes e na ornamentação, nos venenos e remédios, nos usos mágicos e lúdicos.




O botânico Paulo Cavalcante e Protásio Fritkal coletaram com os índios Tiriyó 436 espécies de plantas em geral, das quais 328 possuem valor medicinal nas folhas, nos sumos, nas hastes, nas raízes, nas talas, nas frutas, nas cascas, na madeira, nas flores e nas frutas; e em 41 delas em tudo delas. A protocélula brasileira se plasmou e espraiou (a escritora Berta é quem diz) antes da chegada do negro africano em 1538. O elemento onipresente da civilização brasileira, a chamada cultura caipira, realizou-se através do cruzamento do português com a índia – e só depois da chegada do negro é que a miscigenação ampliou com o surgimento do mulato e do cafuso.




A vida em comum dos índios em suas aldeias era tranqüila e até um tanto feliz (quem sabe?) no regime de liberdade recíproca de ninguém esconder nada, pois não havia o tal de furto, tão danoso e comum entre os seres ditos civilizados. Se um índio jogava pedra no vazio ou gritasse no meio da noite, ninguém se irritava ou recriminava, ninguém deduzia que o gritador estava doido: ele fazia aquilo porque gostava de fazer aquilo. E ninguém se amolava nem se ofendia. Algum argumento racional para justificar a propalada insubmissão do índio? Ao contrário da beatitude cristã (diz Berta), que prega "a humildade e o conformismo, as crenças e os heróis míticos do autóctone reforçam a etnicidade, o orgulho tribal, a resistência a todas as formas de opressão étnica e classista". Se todos na comunidade são justos, tudo se mantém na estabilidade perdurável e assim não há lugar para a hierarquia do abuso e da ganância, do desfeito e da desfaçatez, do chicanismo e do arrivismo, do desgastante esforço para conquistar e ostentar as láureas do sucesso, as comendas do status.




AS PERDAS1 - Dos Idiomas.






O colonialismo cultural foi responsável, juntamente com a extinção física de tantas tribos, pela imposição de apenas um idioma a cerca de quase 700 tribos que falavam seus próprios idiomas (uns filiados ao tronco tupi, outros a outros troncos, outros filiados às famílias lingüísticas isoladas). O processo da substituição começou pela precária adoção do idioma nheegatu em 1616 e depois pela portugalização, até que a hegemonia da língua portuguesa veio prevalecer, isso já no século dezenove. Uma pena tal perda de tantos idiomas. Na verdade, nem sabemos, nem imaginamos o que perdemos de sonoridade, colorido, comunicabilidade e ternura humana não só em termos de linguagem mas também de convivência.






Em 1839 o viajante Nicol Dreys encanta-se com o guarani, idioma usual das Missões no rio Grande do Sul: para ele língua "sonora, eufônica, extremamente pitoresca".






2 – Das Terras.




A partir da segunda metade do século vinte as tribos remanescentes passaram a sofrer grandes pressões e tormentos em suas terras demarcadas, após a abertura das rodovias Belém-Brasília, Transmazônica, Perimetral-Norte, em seu alvoraçado movimento migratório. A ocupação do território se fez mediante a distribuição de grandes latifúndios e poderosos grupos financeiros nacionais e multinacionais dedicados à agropecuária e à exploração mineradora e madeireira, "uma reserva de domínio de imensas extensões de terras, do tamanho de países europeus, para especulação e para efeito de incentivos e isenções fiscais" (conforme página 166 do livro de Berta, citado). Foi mais ou menos nessa época que disseminou-se mundo afora o humilhante jargão de que o Brasil não é um país sério.






" Índia, teus cabelos nos ombros caindo


negros como a noite que não tem luar


Teus lábios de rosa para mim sorrindo


e a doce meiguice deste teu olhar...(M.Ortiz Guerreiro e J.Assuncion Florez).








Vingança, retaliação, são palavras que não constavam no dicionário da cultura indígena. Mesmo castigados mortalmente pelos colonizadores, os índios deram o Brasil aos portugueses: Tibiriçá salvou a nascente Villa de São Paulo em 1562; Araribóia salvou o Rio de Janeiro, ao assumir o posto de Estácio de Sá, ferido, no comando das forças que expulsaram os franceses. Poti (Henrique Camarão) foi uma espécie de El Cid em Pernambuco, no episódio da expulsão dos holandeses; e Amanaju (é o historiador Diogo de Vasconcelos que afirma) "conquistou o Maranhão e deu a Portugal o império do Amazonas".






Uma pesquisa de geneticistas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) está causando surpresa aos estudiosos da miscigenação brasileira. A quase totalidade dos genes brancos brasileiros de hoje (revela a pesquisa, comentada por Marcelo Leite, editor de ciência da Folha de São Paulo), herdados por via paterna vieram dos portugueses; mas o que foi recebido por linhagem materna, 60% veio de índias e negras: 33% de indígenas e 28% de africanas. Os portugueses que chegaram logo após o Descobrimento "aqui se juntavam com as indígenas, num primeiro momento, e só depois com as escravas negras". Assim a teoria da minimização da herança genética indígena cái por terra, pois se a população atual contém um terço de haplótipos indígenas (mt/DNA), isto quer dizer aproximadamente 50 milhões de linhagens ameríndias, dez vezes mais do que quando a Terra dos Papagaios foi descoberta. A conclusão é de Sérgio Pena, chefe da pesquisa intitulada "Retrato Molecular do Brasil": "a presença de 60% de matrilinhagens ameríndias e africanas em brasileiros brancos é inesperadamente alta, e por isso tem grande relevância social". Não está, pois, passando da hora de um nosso tardio e reverente reconhecimento? Depois de tanta vergonha genética que a humanidade tem passado (a classificação das raças em valores negativos e positivos, as intenções frankesteinianas de clonagens e de mapeamento de genomas..., meu Deus, a constatação da beleza e da verdade não está justamente na súmula da unidade?), está na hora do brasileiro cair em si e assumir a tríplice formação biológica de seus seres e de esquecer a bobice preconceituosa da chamada reunião de três raças tristes? Tristes na opinião de quem quer entristecê-las, menosprezá-las, colonizá-las e tirar delas o sabugo da alegria inerente ao ser humano de toda parte. "(Lázaro Barreto)



Publicado por clevane pessoa de araújo lopes em 13/05/2007 às 00h07 em http://www.clevanepessoa.net/blog.php




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Reação do autor, o grande escritor mineiro, depois que o publiquei:




"Ô Clevane, só você mesma para lembrar de um texto obscuro, que eu pensava que só eu gostava (não pela escritura, mas pela intenção de justiçar o papel do índio na cultura brasileira). Muito obrigado e que todas as celestiais entidades indígenas cumulem a doce amiga de venturas e e mais venturas. Abraços do amigo Lázaro."






Mais textos desse escritor e poeta:








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Paraguaçu de Caramuru, a Quayadina


Paraguaçu de Caramuru(I)


(Clevane Pessoa de Araújo Lopes)

Estive na Bahia, no Ano passado, para fazer as oficinas de capacitação, para a OIT(Organização Internacional do trabalho), que patrocina a pesquisa do NNEP(núcleo de pesquisa da UEFS, Universidade Estadual de Feira de Santana,Bahia), no triste enfoque da prostituição de menores,turismo sexual, violências.O curso envolvia interessados policiais,comissários de menores,pessoal de oNGs, etc.
Logo que cheguei, a médica Maria Conceição de Oliveira Costa, coodenadora do NNEp,levou-me para conhecer-ou re/conhecer, de vez que passei lá em criança-Salvador.Maravilhei-me com toda apujança, colorido, belezas naturais, arte ,igrejário, faróis e com a nvo sentido de urabanização que foi dado à cidade .Ao voltarmos para seu apartamento, de onde se vê o mar,passamos pela Igreja da Graça, nome do bairro onde mora, e ela falou-me de quanto fica encantada quando ali vai, assistir Missa e vê, pintada, a imagem de Catarina Paraguaçu.Vestida de dama, mas com um cocar.Lembrei-me das aulas de História, quando eu me encantava com essa personagem poderosa, uma das protagonistas femininas de maior relevância para a formação do povo brasileiro.Ceição contou-me que o terreno para que a Igreja fosse erguida, foi doado por Paraguaçu...
Diogo Álvares, português náufrago, mata duas aves usando um arcabuz, reza a lenda.Os nativos o consideraram uma espécie de, por extensão, deus do Fogo, aliás,na verdade, o chamado “Amãssunga”,deus do trovão.Foi sempre considerado como tal, adorado,tendo –se tornado um grande líder dos Tupinambás, os nativos ali da Bahia.Primevos baianos seriam pois descendentes de um luso e uma indígena da terra brasileira.Jaques Cartier , o descobridor do Canadá, foi quem levou a Catarina e Diogo à Europa, onde ela se batizou,em Saint-Malo, na França,recebendo então, em homenagem,o nome de Catarina de Médicis,esposa de Henrique II,promovendo o casal ao casamento.
“Quayadina”(Catarina), como era conhecida entre os nativos,é considerada “a Mãe do Brasil”.O baiano Tasso Franco, que escreveu “Catarina Paraguassu,a Mãe do Brasi l(Editora Relume Dumará)”, aliás, com razão, reclama porque,nas festividade eventos do Ano do Brasil, na França, não tenham atentado para seu valor histórico.

Para os que não sabem, a cada ano, a França escolhe um Páis do qual mostra a cultura plena, a História.Segindo li,lisabete Leonel, coordenadora do projeto do comitê específico (2006), por algum motivo ignorado por nós, omite a nossa nativa, casada com Português,Catarina Parguassu.Tasso já escreveu uma carta ao ministro da Cultura,o conhecidíssimo Gilberto Gil, também baiano, apontando para essa falha.Esperemos que ainda haja tempo de colocar essa incrível mulher no rol das apresentações de arte. (*)

“ Quayadina” representa ,fundamentalmente, a integração racial brasileira, pois seus numerosos descendentes legitimam o nativo, nosso índio(como canta Baby Consuelo,”Todo dia, era dia de índio”).Ela morreu há 416 anos, mas ainda é um vulto feminino de peso,que as escolas precisam aprendem a dar mais ênfase.Além disso, essa história de amor é mui linda,significativa de mil outras misigenações que a partir dela vêm ocorrendo nesses brasis,cujo povo, carrega nas veias tantos outros povos.Atavicamente, somos muitos num só.

Em relação à Igreja da Graça, consta que Catarina, já batizada,,tem um sonho , onde vê náufragos e entre eles, bela mulher branca, que porta nos braços uma criança.Aflita com as impressões, muito reais, desse sonho, roga ao marido que a procure.Diogo Álvares faz correrem a costa, à procura de pessoas que tivessem sofrido um naufrágio.Encontram apenas dezessete navegantes, de origem espanhola que afinaçam, não terem, na tripulação,mulher alguma.Caramuru leva a notícia das buscas à esposa, e ela já tivera outro sonho:a mesma dama clara, dissera que a procurassem na aldeia,e que lhe erguessem uma casa.Numa oca, acham então uma pequena imagem de Nossa Senhora.Diogo a entrega à mulher.É essa mesma imagem que é venerada no altar mor da Igreja da Graça-linda, colonial, testemunho de uma época verdadeiramente brasileira, onde tudo teve início para o Brasil, como uma nova Pátria-abrigo a tantas outras pátrias do mundo...

Em 1999, quando completaram-se 410 anos de sua passagem para outra dimensão, as pessoas que compareceram à Missa, receberam um réplica do brasão da ermida( Armorial da chamada Casa da Torre da igrejinha).
Santa Rita Durão, em seu poema épico Caramuru,, chama Diogo de “O Filho do trovão”(Tupã Caramuru).explica que os tupinambás, antrófagos, vão devorando os portuguese náufragos e que sete são colocados , para engorda, em uma gruta.Diogo percebe que não têm armas de fogo.Veste-se, recolhe pólvora dos destroços e sai para defender seus infelizes companheiros, quando é então, endeusado.Santa Rita Durão atibui a Catarina, feições e pele clara européia...Uma parte maravilhosa do poema, é quando Diogo Álvares parte com Catarina,pois estava saudoso da sua Europa...É quando morre afogada a jovem Moema,que também , como outras índias, lançara-se ao mar buscando alcançar o amado Caramuru...
Diogo fala ao soberano da fauna e da flora brasileiras e o casal ,ao voltar, ocupa-se de liderar as terras brasileiras.Durão conta que o Rei francês, oferece-lhe fortuna, para integrar à França,os indígenas, mas o herói, fiel ao soberano português, não aceita a proposta...Paraguaçu é descrita como uma personagem capaz de grandes premonições sobre sua terra natal...

Guel Arraes resolve fazer uma comédia(lançada em 2001),filme chamado “Caramuru, a Invenção do Brasil”sobre a história de Paraguaçu.A Paraguaçu de Caramuru, conforme gosto, desde criança, de chamá-la.No elenco, o excelente Selton Mello, como Diogo Álvares e a linda Camila Pitanga, a nossa Catarina.Faz sua irmã a não menos bonita Déborah Secco.Outra Débora , a Bloch, com sua pele européia, interpreta a sedutora Isabelle,que se faz pintar por Diogo, um pintor,incumbido de,como usavam antigamente, ilustrar um artístico mapa de navegação,para ludibriá-lo e roubar o dito trabalho, caríssimo e necessário.Deportado por ter caído em seu logro, o protagonista viaja na caravela de Vasco de Athayde,interpretado pelo magistral Luiz Mello.É quando se dá o naufágio, verdadeiro ponto de partida para a história da História.No filme, musicado por Lenine e por Jorge Furtado,de fotografia estonteante-como impossível não ser-atuam ainda Diogo Vilela e Pedro Paulo Rangel.Não obstante a trama ser dessa forma histrionizada, serve para que os jovens se interessem pelos fatos reais, os adultos recordem esse protagonismo entre uma tupinambá e um luso.

Clevane pessoa de Araújo Lopes
Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
Em 9 de abril, de 2005
Essse texto, está publicado em meus sites e blogs e, emm 2007, faz parte da Antologia Roda ao Mundo (2007), organizada por Douglas Lara, de Sorocaba, S.paulo e editada pela Editora Ottoni, de Itu.
A imagem, foi obtida em sites pela internet.
Se qualquer uma , deste blog, que não puder ser exposta para ilustrar os textos, basta que me comuniquem e a retirarei.

Itaquatiara

Clevane Pessoa de Araújo Lopes


Ita, na linguagem tupi, quer dizer pedra.

Kwatiara, pintura.


O termo Itaquatiara ,no Nordeste e no Norte, revela um espaço onde há pinturas rupestres, inscrições primitivas ,desenhos - ou incisos ou pintados com tintas naturais, tais quais a do Urucum - e até representações pictóricas esculpidas.


Também era o nome dado a sinais usados em orientação,quanto aos recursos naturais de um lugar (rios, cachoeiras,montes...)e mesmo a registros migratórios.


Revelam uma autóctone pictografia dos indígenas.


Literalmente, significa pois, "pedra pintada'.


E abro aqui esse blog, para abrigar a literatura e as ilustrações de indígenas ou sobre eles, poesias, lendas,protagonistas.


Inicialmente, pensei em chamar ao blog de Muiraquitã,mas o til não era foi aceito pelo sistema do blog e resolvi que depois, contarei a linda lenda.Quando morei em Belém, no Pará,aqui no Brasil ,comprava as rãzinhas verdes que são amuletos, e as trazia para amigas.Dá sorte na vida amorosa, acredita-se.


Aqui estarão referências de livros, filmes, fatos reais, além de arte e literatura.


Um espaço da terra Brasilis, as etnias ,a História.Mas também de todas as terras do mundo, sobre onde as populações nativas ,os pueblos...
Parcerias estão abertas.
E quem quiser colaborar,entre em contato :
clevaneplopes@gmail.com ou cpotiguara@yahoo.com.br