sexta-feira, 23 de abril de 2010

Terra Indígena Capoto /Jarina-Aldeia Piaraçu


http://www.youtube.com/watch?v=ZmOozYXozb8&feature=player_embedded
Fonte:

" greenbr — 31 de dezembro de 2009 — Cenas gravadas na Aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto/Jarina, entre os dias 28 de outubro e 4 de novembro d... greenbr — 31 de dezembro de 2009 —



Cenas gravadas na Aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto/Jarina, entre os dias 28 de outubro e 4 de novembro de 2009. Nesse período, os ministros do Meio Ambiente e Minas e Energia foram convidados a ir ao Xingu para discutir os impactos da obra de construção da usina de Belo Monte na região. Se concretizado, Belo Monte será a terceira maior hidrelétrica do mundo e vai causar impacto mais de 9 milhões de hectares de floresta, uma área equivalente a duas vezes a cidade do Rio.


Categoria:
Sem fins lucrativos/ativismo


Palavras-chave:

Kayapo belo monte greenpeace amazônia "

quarta-feira, 17 de março de 2010

Não destrua a Vida de Uma Mulher Indígena-Republico, no mês da Mulher


Amigos:muito especialmente,solicito que , conosco, entre nessa campanha pelas do GRUMIN (presidido pela escritora Eliane Potiguara),pelas mulheres indígenas..

Precisamos entrar nessa campanha!Divulgue para suas listas.Coloque onde puder, em sites,HPs, news,jornais. Envio a pg de meu blog, onde começo a campanha.Use conforme ficar melhor.

No site ,há os textos completos da Eliane, que listo abaixo.





23/11/2006 08h17

"Não destrua a Vida de Uma Mulher Indígena"

Imagem:uma foto mais antiga de Eliane Potiguara, que encontrei em meu arquivo, mas não tenho os créditos.Se Eliane puder mandar-me seus dados, agradecerei.
"Não Destrua a Vida de Uma Mulher Indígena"

Campanha do GRUMIN


A bela e dinâmica escritora Eliane Potiguara,da Rede de Escritoras Brasileiras(REBRA) à frente da Rede de Defesa Indígena(GRUMIN),que ficou muito conhecida no Brasil depois da publicaçãode Metade Máscara, Metade Cara,onde a dicotomia entre ser de origem indígena brasileira e ser alguém-no-mundo,"aculturada" e com oportunidades de ter estudado, são demostradas de forma verdadeira, pungente e até nas entrelinhas.Mantém site e correspondência sobre atualidade indígena em nosso País.

Agora, Eliane, a quem eu muito admiro e a quem ofereci meu livreto coma poesia "A Indiazinha e o Natal"(*)-o qual, quando sair uma edição definitiva, será oferecido ao GRUMIN, conforme prometido,pois a primeira, em edição do autor, teve capa indevida-está à frente de importãncia campanha.

Volta e meia se lê nos jornais sobre violências cometidas pelos donos do poder contra os donos da Terra brasilis.De onde a nossa ancestralidade se reporta.Temos vários sangues nas veias, o negro é um deles, o europeu outros, e dos indígenas, que quando miscigenados com os negros, deram origem aos cafuzos.Estes, também chamados popularmente de caburés ou puris, em geral tinham a pele mais escura que os nativos,mas conservavam os cabelos lisos, típicos da gente brasileira genuína, à feição dos orientais-e em cujo facies,encontramos muitas semelhanças com estes.
os tipos sanguíneos cruzados com as antigas famílias européias, como as portuguesas e hoklandesas, pois os dominadore e conquistadores e invasores que por aqui andavam,
Imaginem o quanto esse homens, vindos de países distantes, onde omoralismo era a tônica, as vestes escondendo e prometendo, sentiralm ao ver a beleza plena e natural das mulheres indígenas, às chamatram índias, por pensarem haver aportado Às Índias.Certamente os cabelos escuros e lisos reforçaram essa idéia.
Na carta de Pero Vaz de Caminha, narrando a seu rei o que aqui encontraram,lemos que a sensualidade,a forma física delas lhes chamava -lhes a atenção.As européias não se depilavam, quase não se banhavam e os homens encontram belezas puras, limpíssimas,acostumadas a banhos de rio, mar e cachoeira ,as águas sempre presentes nas brincadeiras, desde a infância aos adultos,nos rituais, nos partos...
,quentes de sol ,acostumadas a navegar em suas igaras , a cultivar seus roçados,a dançar, a caminhar,o que lhes mantinha os jovens corpos em forma.Não se sabe com que olharam para as velhas.Para a sua sabedoria milenar.Os índígenas eram saudáveis,não conheciam doenças que assolavam a Europa.As moças não apresentavam pêlos pubianos na genitália exposta, que muitos daqueles cidadãos e navegadores, marinheiros e degredados que para cá foram enviados para ajudar a conquistar a nona colônia,jamais haviam sequer visto, exceto na estatuária,na pintura, ou, no caso de crianças, nos anjinhos das igrejas e obras acadêmicas.Os órgãos sexuais externos eram eufemisticamente chamados "partes".

Caminha então, conta a seu rei sobre essa beleza natural:

“Uma daquelas moças era toda tingida, de fundo acima, daquela tintura a qual é certo era tão bem feita e tão redonda a sua vergonha, que ela não tinha, tão graciosa que muitas mulheres de nossa terra vendo-lhes tais feições fizera vergonha por não terem a sua como ela”.

(...)"suas vergonhas tão altas e cerradinhas"(...),narra, dizendo que os habitantes tinham .Há um trecho, em que percebe claramente o quanto as roupas européias teriam embutidas emtantos panos e atavios, a noção de do pecado original, tão difundido num País de reis católicos:

“... a que deram um pano com que se cobrissem e puseram-lho ao redor de si. Mas ao sentar não fazia memória de o muito entender para se cobrir. Assim senhor, que a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria mais quanto a vergonha.”

Há algum tempo, andei revendo , de meu arquivo,fotos antigas, onde os nativos são expostos a uma câmara fotográfica e posam quais estátuas de cera,olhar perdido, saudoso de sua genuína forma deforma de ser.Colocam-lhe panos sobre os genitais,percebe-se a pose forçada.Há doentes mentais , confinados em hospícios -hoje,no Brasil há uma luta muito grande pelo hospital-dia, onde a prisão nosocomial é trocada por terapias e a pessoa volta para casa, para não perder-se dos elos familiares também às o fotógrafo usando seus corpos como se fossem modelos sem vida.Na olhar que fugiu, a alma que se perdeu na saudade.Assim como os negros morriam de banzo,saudosos da sua África, muitos nativos, às vezes levados paraa Europa, paraa Corte,quais animais raros para exposição, muitos deles usados para a arte- e a triste realidade:muitas mulheres abusadas sexualmente.Donde a miscigenação.

Há doentes mentais , confinados em hospícios -hoje,no Brasil há uma luta muito grande pelo hospital-dia, onde a prisão nosocomial é trocada por terapias e a pessoa volta para casa, para não perder-se dos elos familiares .Aquela pessoa que ostenta o que os franceses chamam "La belle indiferènce", numdado momento , após dias de fuga interna extremada, parece acordar, sai correndo, tentasuicidar-se por não suportar mais, literalmente, estar à mercê de alguém .Mesmo que seja um médico.De repente, a alma volta e cobra a liberdade de ser.O olhar apagado qual uma luz quandose vai dormir, é acesa.Todas as luzes da casa mental se acendem e a pessoa percebe a não suportação inevitável.

Acredito que num dado momento, o sol quente e luminoso da terra nativa, se acendesse novamente nas almas deprimidas,recalcadas.E quisessemmorrer.como única escapatória.Longe de suas crenças, rituais, da "natureza aqui perpetuamente em festa", como disse Olavo Bilac em poesia que muito declamei na infãncia,gente, costumes, os índios sossobravam.Por isso, das muitas piopul~ções , existem hoje tão poucos representantes...


Quando, no Centro Cultural S.Bernardo, fui conhecer Ailton Krenack, uma pessoa linda, culta, mas sobretudo representante de sua bela raça, dançamos com ele , numa das danças circulares, ao avô rio.As lágrimas desciam-me pelo rosto.Todos nós, os Oficialmente "civilizados"estavam extremamente emocionados.Os espíritos das árvores do pátio externo, elastambém descendentes e sobreviventes na cidade grande, começarama emitir sinais.Quase entro em transe, e vi minha tataravó ou tetravó indígena.Sempre ouvi minha mãe e minha avó, com todos os traços fisionômicos de meus ancestrais indígenas,contar dessa pessoa, "caçada a laço", por meu tataravô ou tetravô, fascinado por sua beleza e que levou para a fazenda, a fim de com ela coabitar e ela pariu esses meus ascendentes.

Não posso, passar, mesmo dentro de ônibus ou carro, por uma estrada em frente a alguma matinha, que sinto a imediata vontade de descer e adentrar ali.Um chamamento de reconhecimento.E quando, em alguma trilha ou excursão, adentro em uma, reconheço tudo.E reconheço-me.Passei a vida viajando,somente retornei a Natal(RN) , já adulta e mãe.Os parentes se perderam no tempo e no espaço.Jamais pude chegar a essas origens.Como catarse, escrevi sua história.Ou inspirada pelo espírito maior, ou apenas com meu inaginário de escritora.

Agora, Eliane Potiguara preocupa-se com o suicídio dos índios.Dos abusos cometidos contra as mulheres, seu especial foco de cuidados, e pede que enviem as histórias que conhecem, que denunciem , e coloca o GRUMIN como um cofo(assim chamam, no Maranhão, os cestos de folhas palmeiras que trançam imediatamente,ao precisar guardar ou transportar algo, uma obra de artesanato linda, feita à frente de seus olhos perplexosUm embalagem natural).O Grumin precisa armazenar e divulgar esses depoimentos e impressões.E mais:quer lutar para que isso acabe.Os representantes das etnias brasileiras já são tão poucos, como permitir -lhes o auto-extermínio por absoluta falta de mojepotara(*)?

Clevane pessoa de Araújo Lopes, Belo Horizonte,23/11/2006
Diretora Regional do InBrasCi
Vice Presidente do IMEL
Embaixadora Universal da paz(CUAP-Genebra, Suiça)

Por favor, divulgue.

(*)Ontem conversava com Ricardo Evangelista,sociólogo e poeta , autor de mojepotara, que na linguagem indígena significa "acender o fogo".É preciso que ajudemos a manter, qual chama votiva, o fogo , para que a escuridão não tome conta dos espíritos de nossos irmãos...Lembrei-me agora, ao pensar na luz que deve a voltar a brilhar dentro dos indígenas brasileiras, os quais, se têm oportunidades, podem mostrar-se brilhantes, por sua de inteligência, cultura, filosofia de vida.

Clevane


SERVIÇO:
GRUMIN/Rede de Comunicação Indígena/Notícias Diárias
Clique aqui se não estiver abrindo os links ou veja em

http://blog.elianepotiguara.org.br/ NOTÍCIAS DIÁRIAS

Veja as chamadas abaixo, navegue até ao site, banhe-se com o sol da nossa ancestralidade.

1-CAMPANHA GRUMIN: NÃO DESTRUA A VIDA DE UMA MULHER INDÍGENA!
Resumo:Iniciamos aqui uma Campanha contra a violência às mulheres indígenas no Brasil.A onda de suicídios de jovens homens e mulheres, tanto no norte do país quanto na região amazônica tem gerado muita revolta entre as mães indígenas que acabam não vendo solução para o problema e acabam traumatizadas, enfermas, stressadas e abaladas psicologicamente.
Continuar lendo...

2-Índios ameaçam protestar omissão
Resumo:Um alto índice de criminalidade está sendo registrado na reserva indígena de Dourados, mesmo assim, os trabalhos de segurança, que estavam sendo realizados pela equipe da Operação Sucuri, foram cancelados há 60 dias pela Funai.
Contimuar lendo...
Enviar um comentário...

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GRUMIN/Rede de Comunicação Indígena
ELIANE POTIGUARA
“A violação aos Direitos Indígenas
divide famílias. O respeito as suas tradições, identidade, cosmovisão, espiritualidade e ancestralidade
perpetuam o AMOR entre povos e entre homem e mulher”. Texto: Eliane Potiguara

Visite esses 03 SITES
http://www.elianepotiguara.org.br
http://fotolog.terra.com.br/elianepotiguara
http://groups.yahoo.com/group/literaturaindigena

E-mail: elianepotiguara@uol.com.br
E-mail: elianepotiguara@yahoo.com.br


Publicado originalmente ,por Clevane Pessoa de Araújo Lopes em 23/11/2006 às 08h17

sábado, 2 de janeiro de 2010

Elaine Tavares fala sobre o Povo Xokleng


Fonte da foto (ver em Serviço ** )



A esritora Urda Alice Klueger , envia-me esse importante texto da jornalsta Elaine Tavares , no primeiro dia de 2010.
Gosav quando ouvia Baby Consuelo entoar "Toda Dia Era Dia de Índio"(*)de Jorge Ben Jor época ainda conhecido pelo nome de Jorge Ben- mudado por questões de numerologia, o que deve ter tido efeito, pois continua aí, firme e forte...
A questão indpígena sempre aguçou a escritora potencial que eu era, em criança, quando ouvía minha mãe contar sobre uma trisavó potiguara (*tribo que habitou o Rio Grand do Norte, também nômade, e que, mesmo depois de tanto tempo, ainda nos faz hrdar traços fortes-por exemplo, meu cabelos pretos-que somente agora, aos sessenta e dois anos, permite três fios brancos-um para cada perda significativa de entes amados...Hoje, mais cedo, postei no Mural dos Escritores, da rede NING, coordenado pela professora e autora Ana da Cruz, dois poemas para três mulheres indígenas, uma delas, Eliane Potiguara.
A ursupação dos "descobridores" nas Américas tem essas caracteristicas de negação da territoriedade, da ancestralidade, das tradições lendas e mitos...A negação de propriedade legal e de fato.A violência das cnquistas, os estupros, a imposição de nova religião, enfim...
Interessi-me pelos Xokleng ao ler , há mitos nos, o poema de Lindolf Bell , poeta catarinense da catequese Poética, aqui postado e pelas crônicas de Urda.

Esse texto abaixo, da Elaine, é muito consitente e bem esenvolvido, por iso, gostaria que o lessem e o comentassem.

Muito bom e legítimo!
Cleane Pessoa de Araújo
Vice Presidente do instituto Imersõ Latina, MEL.






“Já acabou a época de acabar”: avança o valente
Por elaine Tavares - jornalista

Quando Cabral chegou às águas da Bahia, na região sul de Pindorama, onde hoje é Santa Catarina viviam os Guarani, os Kaikang e os Xokleng, sendo que os primeiros vestígios de comunidades humanas nestas paragens datam de 5.500 anos. Para os Xokleng, a terra conhecida chamava-se La Klãnõ, que na sua língua quer dizer “território dos caminhantes do sol”, ou “da gente que vive sob o sol”. Eles são do tronco lingüístico Jê e, segundo estudos feitos pelo antropólogo catarinense Silvio Coelho dos Santos, no passado, viviam divididos em três grandes grupos. Um deles circulava pela região do Vale do Itajaí, outro na cabeceira do Rio Negro , na fronteira com o Paraná, e o terceiro, no sul, próximo a Tubarão. Eram nômades, caminhavam pelo território em busca de caça e pesca e não eram dados as artes agrícolas. Seu centro vivencial se dava em torno da mulher. Ela decidia onde parar, descansar suas tralhas domésticas e fazer o fogo. Ali o grupo então permanecia por alguns dias. Viviam no tempo e só construíam abrigos feitos com ramas de árvores nas épocas de chuva. Seu espaço de andanças na busca da caça cobria desde Curitiba, no Paraná, até a região de Porto Alegre. No litoral viviam os Guarani, e os Kaigang um pouco mais para dentro, no lado oeste. Com estes, os Xokleng vivam de escaramuças.

Por conta da proximidade com o mar os Guarani foram os primeiros a serem encontrados pelos brancos invasores, quando estes começaram a descer a costa. Logo passaram a ser capturados para servir de mão de obra escrava. Mas, por causa da resistência que empreenderam e também das doenças, este povo foi praticamente dizimados. Poucos restaram, fugindo para dentro do continente, outros foram escravizados. Já os Kaigang e os Xokleng só foram vistos bem mais tarde quando os paulistas iniciaram as rotas de comércio com o Rio Grande do Sul tendo os tropeiros como os desbravadores, por volta de 1728, portanto, mais de 200 anos depois da conquista. Mas, eram encontros fortuitos. No geral, quando viam os brancos ocuparem seu território, os Xokleng resistiam bravamente, passando a ser reconhecidos pela sua valentia. A região ocupada por esta etnia era o espaço das araucárias, que, para eles tinha importância fundamental. Toda a base da sua alimentação era o pinhão, e é bem provável que tal qual os Mapuche, da Argentina e Chile, também moradores de terras de aruacária, estes espaços fossem considerados sagrados.

Foi com o surgimento da cidade de Lages, em 1771, que a saga de destruição dos originários tomou mais força. Colonos vindos de São Paulo ou de outras regiões do Brasil montavam fazendas para criação de gado e cercavam as terras. Depois, com a chegada dos imigrantes europeus, no início do século XIX, outros espaços de terra lhes foram tomados, a ponto de uma carta régia de Dom João VI estabelecer o início de uma guerra de extermínio. Os conflitos eram inevitáveis. Uma triste história, pois tanto os Xokleng defendiam suas terras, quanto os imigrantes buscavam o cumprimento de uma promessa de vida melhor. Mas, neste embate, os originários eram os que levavam a pior, uma vez que sequer eram considerados “humanos”. Pejorativamente chamados de “bugres”, os Xokleng passaram a ser caçados como bichos pelos “bugreiros” que os vendiam no mercado de escravos e defendiam as terras dos imigrantes. Naqueles dias, a vida dos Xokleng, que adentravam o mato e observavam, curiosos, a horda dos brancos, entraria num redemoinho sem volta.

Os Xokleng tinham uma longa tradição guerreira, uma vez que viviam de escaramuças com os Kaigang e a presença dos brancos ia, pouco a pouco, inviabilizando a coleta de alimentos. Sem a prática da agricultura, guerrear com os invasores passou a ser vital para os grupos originários. Uma coisa levou a outra, e o governo também decidiu proteger as terras com milícias armadas. Cada vez mais os indígenas ficavam encurralados, uma vez que não tinham para onde fugir. Assim, exército regular e tropas de bugreiros iniciavam a “civilização”, como eles mesmos anunciavam nos jornais da época. E, esta, nada mais era do que o massacre sangrento de famílias inteiras dos Xokleng. Nem mulheres ou crianças eram poupadas. O índio era visto como um simples obstáculo que deveria ser transposto em nome do progresso e da vida feliz das famílias brancas. Ninguém levava em conta que aquela era uma terra que tinha dono.

A “pacificação”

No início do século XX, depois que grande parte do território dos Xokleng já estava loteado e um expressivo número de indígenas mortos, em 1914 dá-se o que ficou conhecido na história por “pacificação”. Naqueles dias, a já então República tinha o índio como um “problema nacional” e no começo do século XX Cândido Rondon havia iniciado sua cruzada de integração do indígena à vida brasileira, sempre pela paz. Em 1910 o Estado criara o Serviço de Proteção ao Índio, tendo como lema o axioma de Rondon: morrer se for preciso, matar nunca! Chegava a hora do fim do massacre pelas armas e começava uma proposta de “integração” que, apesar da boa vontade, também confinava o índio e obrigava os povos a assumir uma nova cultura, assim, de chofre, num choque cultural do qual poucos se recuperaram.

Em Santa Catarina a história oficial conta de um jovem idealista, Eduardo Hoerhan, que havia assumido o SPI e buscava um encontro com os Xokleng para acabar de vez com as escaramuças entre indígenas e colonos imigrantes. A proposta era pacificar e aldear os Xokleng para que as comunidades criadas nas terras originárias pudessem produzir e viver em paz. Dos desejos dos índios ninguém quis saber. E assim, contam os livros que depois de algum tempo de “namoro”, com conversas (Eduardo arranhava a língua dos Xokleng) e com a entrega de presentes, ele logrou atrair os indígenas e pelos menos uns 400 deles passaram a freqüentar o chamado “Posto de Atração”. Mas, apesar disso, os “bugreiros” continuaram a atuar na região, afinal, muitos grupos de indígenas ainda vagavam pelas florestas e até os anos 40 ainda se avista um ou outro resistindo ao aldeamento.

Foi no ano de 1918 que Hoerhan chegou a Ibirama com um grupo de 200 Xokleng e foi ali que se demarcou um espaço para que a comunidade passasse a viver. Naqueles dias, conta Silvio Coelho, os chamados “botocudos” eram como bichos no zoológico e de todos os cantos do estado vinha gente para vê-los, acuados e tristes, finalmente pacificados. Assim, de caminhantes sob o sol, nômades e livres, os Xokleng passaram – num átimo - a sedentários e dependentes da boa vontade governamental. Uma mudança brusca demais na cultura e no modo de ser a gerar conseqüências que perduram até hoje. Uma foto, reproduzida no livro de Silvio Coelho “Índios e Brancos no Sul do Brasil – a dramática experiência dos Xokleng”, dos primeiros anos de “pacificação”, é a prova viva do horror vivido pelas gentes Xokleng. Nela, uma mulher abraça uma menina, mas o que toca a alma são os olhos. Os da mulher expressam um profundo sentimento de tristeza e derrota e a menina olha para câmera cheia de terror. Agarradas, as duas se protegem, mas sabem que a vida nunca mais será a mesma. É o fim do seu mundo.

A voz Xokleng

Convidados pelo Grupo Livre de apoio aos Povos Indígenas de Santa Catarina e reunidos em Florianópolis, em dezembro de 2009, os 18 caciques da área Xokleng La Klãnõ, apresentaram outra versão da história, desde as suas memórias mais antigas. Conta o diretor da Escola Bugio, José Cuzung Ndilli, que a chamada “pacificação” não foi conseguida por Eduardo Hoerhan, como diz a versão oficial. “Foram nossos líderes que, em 1909, se juntaram e decidiram que não dava mais para ficar guerreando com aquela gente que chegava. Foram eles que decidiram fazer o contato com os brancos, indo na casa de Hoerhan. Foi nosso povo que decidiu pela paz. A gente confiou nos brancos e é tão rejeitado até hoje”. Naqueles dias, diz ele, dos 400 que fizeram contato, sobraram apenas 120, por conta das doenças que apareceram. “Hoje, passados 70 anos, nós somos dois mil índios e continuamos crescendo. Já acabou a época de acabar. Nós somos um povo difícil de extinguir”.

Ndilli diz que atualmente os Xokleng ainda sofrem com a perseguição e o preconceito. Isso sem falar na falta de respeito do governo para com eles, como ficou claro na construção da Barragem Norte, em José Boiteaux, nos anos 70, que alagou terra e desalojou várias famílias, diminuindo ainda mais o território. “A gente sabe que as lideranças da época aceitaram a barragem, mas como foi o processo? O branco sempre quis ser superior ai índio e não leva em conta as nossas necessidades. Ele sabe que a terra é nossa, mas tem essa ganância”. Há pouco tempo, em 1991, os Xokleng chegaram a tomar o canteiro de obras da barragem exigindo o cumprimento das promessas, que não saíram do papel. “Tem muita gente sem casa, não há um estudo de impacto ambiental da barragem e nós queremos ver. Porque se o verde da bandeira ainda está aí, intacto, é porque nós protegemos. O que é história de progresso para o branco, pra nós é sofrimento”.

O professor Ndilli insiste que os Xokleng vão seguir lutando pelos seus direitos, pelo cumprimento das leis, embora saiba que para o governo seria bom o índio não ter história nenhuma. “Eles gostariam de ter uma borracha gigante que apagasse tudo, mas não vai ser assim. Em 2014 serão os 100 anos do contato. Que vamos fazer, festa ou o quê?”

Livai Paté, que é representante dos Xokleng no Conselho de Saúde, diz que não gosta de lamentar o passado, mas que sempre é bom lembrar para que as coisas não aconteçam de novo. “Nós também queremos viver, ter nosso direito, nossas terras, educação, saúde. E há que respeitar nossa forma de viver, de praticar a medicina. Essas terras eram nossas, e agora temos de ficar confinados em lugares ruins. A terra onde estamos é uma pirambeira, as melhores foram tiradas de nós. A gente não pode aceitar”.

Vomble Paté é representante da área de Palmeira e reclama da falta de interesse por parte das pessoas brancas, com relação aos problemas indígenas. “De cada 10, dois se interessam. A gente vem aqui na universidade e não aparece estudante. Mas nós queremos dizer a nossa versão da história. Esse Eduardo (Hoerhan, o pacificador) não significa nada pra nós. Ele matou um companheiro que foi buscar nosso direito. E essa matança continua. Antes eles matavam com arma de fogo, agora matam com a caneta”.

A vida em movimento

Enoke Popó é cacique na aldeia Figueira. Ele conta que os Xokleng se dividiam em vários grupos e tinham como modo de vida a coleta e a caminhada pelo território. O pinhão era o alimento principal. Durante a época da colheita eles juntavam tudo o que dava, para poder durar até a próxima. Depois, coziam e armazenavam embaixo da terra, enrolado em folhas, o que garantia a sua perenidade. O local mais abundante era a Serra da Abelha, onde é hoje o município de Vítor Meireles. “Os mais velhos sempre sabiam onde era o melhor lugar pra acampar. A gente circulava por um território de mais de 34 mil hectares e agora estamos confinados num espaço de 14 mil. Hoje estamos aí na luta para ampliar esse território. O branco fala que a gente não precisa disso tudo. Mas essa terra é nossa. É um direito nosso e queremos manter”.

Enoke lembra que não foi fácil para o Xokleng sair da vida nômade para a sedentária, como também foi difícil aprender a arte da agricultura. E quando eles conseguem, vem o governo e tira a terra, como foi na época da construção da barragem. As melhores foram alagadas e eles tiveram de ir para as regiões de rocha. Não é sem razão que eles procurem se manter mais com o artesanato do que com o plantio de alimentos. Sem a tradição ancestral e sem terras, fica quase impossível virar agricultor. Já a coleta do pinhão também é cada vez menor porque a região está tomada pelo pinus, sendo a araucária um ente em extinção.

“A gente tem de viver dependendo do governo e este ano eles mandaram apenas uma cesta básica por família. Uma, de 26 kg de alimento. E o resto do ano? Como faz? É por isso que os jovens estão saindo, vão trabalhar de empregado nas fazendas, na cidade, e aí perdem o costume”.

Sobre a religiosidade Enoke conta que quase todo o povo Xokleng é evangélico. E Silvio Coelho mostra, no seu livro sobre os Xokleng, como esta igreja acabou sendo responsável pela retirada de muitos dos indígenas do vício do álcool que havia sido contrabandeado para as aldeias para que o branco melhor dominasse. Por outro lado, as velhas tradições, uma vez que não são mais vividas, acabam se perdendo da memória. “A gente conta para as crianças dos deuses antigos, da chuva, do trovão, do relâmpago. O povo antigo se amparava nas forças da natureza. Mas é só uma lembrança que a gente passa no dia do índio. Sobrevivem alguns rituais que a gente faz nos casamento e batismos. Alguma coisa fica. Agora, a língua não. A língua a gente preserva”.

Os Xokleng vivem na região de Ibirama, em Santa Catarina, numa terra de 14 mil quilômetros quadrados. São 18 aldeias que perfazem o território La Klãnõ, com 88 famílias e duas mil almas. Cada área tem um cacique que é eleito pelos membros da aldeia e cumpre um mandato de três anos. “É bom, porque a gente fica perto. Se o cacique não cumpre o que prometeu, o povo cobra na hora”.

Sobre os movimentos de povos originários na América Latina os Xokleng sabem muito pouco. Os brancos que convivem com eles não levam estas informações. “Só no Brasil são 250 povos, com línguas diferentes. A gente tinha de ter uma língua índia pra se comunicar, talvez aí a gente pudesse entender as outras lutas. Nós, aqui, planejamos nossa idéia na nossa língua, mas depois temos de falar em português. Isso é ruim”.

E assim segue este povo que ainda não consegue se sentir em casa, apesar de estar no seu território. Sem terra boa, sem araucária, sem pinhão, sem os direitos básicos respeitados eles fazem o que sempre fizeram: lutam. Pode ser devagar, pode ser isolado, pode ser difícil. Mas é como eles sabem fazer. O povo caminhante do sol conseguiu vencer os bugreiros, a invasão, o medo, a dor. Saíram de 120 almas em 1920 para os dois mil que são hoje. Parece pouco, mas não é. Não para uma gente que já sofreu tanto e que vive abandonada na “Europa do sul”. Mas, naquele silencioso jeito de ser, eles vão gestando o amanhã esperado. Que ninguém se engane, o valente povo Xokleng, que dominou as florestas de Santa Catarina, segue em pé, e avança!...





Existe vida no Jornalismo
Blog da Elaine: www.eteia.blogspot.com
América Latina Livre - www.iela.ufsc.br
Desacato - www.desacato.info
Pobres & Nojentas - www.pobresenojentas.blogspot.com
Agencia Contestado de Noticias Populares - www.agecon.org.br

SERVIÇO:

(*) "Todo Dia Era Dia de Índio também está em :

"Tons da Natureza - 1999 - projeto social Natura
By Cantos Encantos, on junho 4th, 2008
Tons da Natureza - 1999 - Natura

01. Sal da Terra ( Beto Guedes - Ronaldo Bastos) canta Sandra de Sá
02. Que Beleza (Tim Maia) canta Timbalada
03. Toda dia era dia de Índio (Jorge Ben Jor) (Curumim Chama) canta Elba Ramalho
04. Peixe Vivo (D.P.) canta Grupo Molejo
05. Mamãe Natureza ( Rita Lee) canta Kid Abelha
06. Borzeguim [...]

junho 4th, 2008 | Tags: Década 1990, Folclore, Projetos Sociais | Category: Belo Velloso, Elba Ramalho, Engenheiros do Hawaii, Farofa Carioca, Filó Machado, Luiz Melodia, Sandra de Sá, Timbalada"

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Serviço **

Fonte da foto: www.terrabrasileira.net/.../xokleng2.jpg

Nesse site, encontramos o texto abaixo:



"A Lei de Terras de 1850





Nesta foto de 1975,
a dor desta mulher Xokleng
espelha toda a história de
perseguição e massacre
desta etnia.
Calmon, Santa Catarina.


Para os colonizadores portugueses, a terra era um bem que existia em abundância, embora só pudesse ser efetivamente ocupada se estivesse “livre” da presença indígena, os donos naturais da terra. A partir de 1500, o rei de Portugal, julgando-se dono da terra, passou a doá-la em forma de sesmarias a quem tivesse condições de explorá-la, geralmente pessoas das classes mais abastadas. Contudo, muitas vezes, após tentativas infrutíferas de ocupação, a terra era abandonada. Assim ela pertencia, de fato, a quem a ocupasse, isto é, ao chamado posseiro.
Nos primeiros séculos da colonização, as disputas pela posse da terra ocorreram apenas entre os colonos e os indígenas, que foram sendo empurrados cada vez mais para o interior. Muitas terras conquistadas aos indígenas foram distribuídas em forma de sesmarias aos próprios bandeirantes, como pagamento de sua ação destruidora. Para os colonos pobres o acesso à terra só seria possível através da posse, ou seja, pela ocupação.

Em 1822, foi suspensa a concessão de sesmarias e o direito dos posseiros foi reconhecido, caso as terras estivessem efetivamente cultivadas. Por um curto período, entre 1822 e 1850, a posse foi a única via de acesso à apropriação legítima das terras públicas. Era uma via que estava aberta tanto para os pequenos quanto para os grandes proprietários.

Essa situação foi drasticamente modificada com a Lei de Terras, de 1850, que tornou a via da posse ilegal. Daí em diante as aquisições de terras públicas só poderiam ocorrer através da compra, ou seja, só poderiam ser adquiridas por aqueles que tivessem condições de pagar por elas. Essa lei ajuda a entender por que o Brasil possui uma extrema concentração de terra, latifúndios improdutivos e uma grande massa de excluídos, os trabalhadores sem terra.

Um dos objetivos da Lei de Terras foi exatamente impedir que os imigrantes e os trabalhadores brancos pobres, negros libertos e mestiços tivessem acesso à terra. Seu efeito prático foi dificultar a formação de pequenos proprietários e liberar a mão-de-obra para os grandes fazendeiros. Dessa maneira, foi barrado o acesso à terra para a grande maioria do povo brasileiro, que sem opções migrou para os centros urbanos ou tornou-se bóia-fria. Outros continuaram no campo como posseiros, numa situação de ilegalidade, sem direito ao título de propriedade.

A situação dos povos indígenas foi bastante singular, porque em nenhum momento a Lei de Terras contestou o fato de serem legalmente os donos de suas terras. Segundo essa lei, os indígenas teriam direito sobre suas terras simplesmente pelo fato de serem indígenas, e não havia necessidade da legitimação. Mas isso não significou de maneira nenhuma a garantia de seus direitos. Foram utilizadas todas as artimanhas possíveis para burlar a lei e tomar posse de suas terras. O principal argumento era o de que não havia mais indígenas, pois confinados em aldeamentos – que depois foram extintos -, miscigenados e aculturados, eles já não eram mais índios. Assim as terras indígenas foram sendo ocupadas não só por posseiros, mas também por grileiros, que se apossaram das terras mediante falsa escritura de propriedade.

A Lei de Terras de 1850 foi apenas fachada legal que permitiu as maiores crueldades contra os povos indígenas e posseiros; crueldades realizadas não só pelas companhias colonizadoras, mas também pelos governos provinciais e até pelo próprio Exército brasileiro. "

Fonte:Brasil Indígena: 500 anos de resistência / Benedito Prezia, Eduardo Hoomaert. - São Paulo: FTD, 2000.