sábado, 28 de junho de 2008

A Língua das Borboletas-Urda Alice Klueger


"17º livro da escritora Urda Alice Klueger, intitulado “Encontro com a Infância”, uma coletânea de crônicas memorialistas que enfocam, sobretudo, o tempo em que a autora foi criança e adolescente, numa Blumenau de outros tempos. Editora Hemisfério Sul Ltda."



A LÍNGUA DAS BORBOLETAS



(Para Amanda Panambi[1], que é filha da Luciane e do Aldo)





Das tantas línguas com quem se encontrou Cabeza de Vaca[2] nas suas longas andanças pelo continente americano (só na região da América do Norte onde hoje ficam Estados Unidos e México, de uma assentada só, caminhou mais de 10.000 quilômetros ), penso que a mais falada e soberana até hoje seja a língua guarani, usada atualmente na Bolívia, Argentina, Brasil – mas, com muito maior força e reconhecimento, no nosso vizinho Paraguai.

Na primeira vez em que fui de verdade ao Paraguai (nós, brasileiros, costumamos ir até a zona franca que fica entre Brasil e Paraguai, e depois dizermos que fomos ao Paraguai – e ficarmos falando mal daqueles poucos quilômetros cheios de quinquilharias, sem termos a menor noção da beleza que é aquele país), depois de vários dias na belíssima cidade de Assunción, decidi visitar uma região mais ao Noroeste, o estado Menonita. Conhecer a terra dos Menonitas, só por si dá um livro, e então deixo para contar em outra oportunidade. O que quero falar é da língua guarani, que tanto me espantara já em Assunción.

O guarani é a primeira língua de um paraguaio, a língua que ele aprende em casa, com a mãe. Mais adiante vai aprender o espanhol, mas desde os primeiros balbucios e choros, um paraguaio os faz em guarani. Por muitos dias ficara perambulando pelas ruas e praças de Assunción, bastante pasma ao escutar o uso constante do guarani, e não só por pessoas com “jeito” de paraguaias (se é que existe tal “jeito”) como também por gente evidentemente estrangeira, como aqueles loirões modelo Hollywood que são gerentes de Bancos Internacionais, etc. Nas livrarias, interessara-me profundamente pelos livros em guarani, onde não consegui entender nenhuma palavra escrita, e onde comprei, para um amigo que gosta de estudar línguas, um livro de lendas (em guarani, claro!) e um dicionário Guarani/Espanhol.

Mas estava contando que acabei viajando para o tal estado Menonita, e na rodoviária de Assunción, já instalada no ônibus, vi entrar nele três jovens e lindas moças sem aquele “jeito” paraguaio ao qual já me referi acima – eram muito loiras, pareciam-se mais com descendentes de europeus do sul do Brasil. Há dias e dias sem ouvir o português, captei alguma palavra em português na fala delas, e fui lá conversar. As moças era as famosas brasiguaias, que vinham de um estado ao Nordeste do Paraguai, lugar onde vivem muitos brasileiros e seus descendentes. Sim, tinham raízes no sul do Brasil, e falavam português, embora com alguma dificuldade e algumas falhas. Como andava muito curiosa a respeito, perguntei-lhes se falavam guarani. Elas me olharam como se eu tivesse dito uma asneira – claro que falavam guarani! Quem não tinha aprendido em casa tinha aprendido na escola – e então eu me espantei mais: a escola era em guarani? Claro, a escola era em guarani, em que outra língua seria?

E estávamos nessa conversa, elas a contarem que estavam indo para o estado Menonita para trabalharem, quando prestei atenção numa menina que estava na rodoviária, do lado de fora do ônibus, sentada sobre uma alta mala. Teria oito ou nove anos, e lia atentamente um colorido livro infantil cuja capa não deixava dúvidas: era em guarani!

- Gente, olhem a menina, olhem a menina! Está lendo um livro infantil em Guarani!

As três lindas moças me olharam como se eu fosse boba, e depois se entreolharam. Acho que acharam que deveriam dar uma explicação ao ser humano sem bom senso que eu era:

- E daí? Nossos livros infantis também eram em guarani!

Aí fiquei quieta e feliz como não saberia explicar a elas. Pensei em Cabeza de Vaca. Se ele soubesse que, quase cinco séculos depois, aquela língua estaria completamente viva tanto nos livros infantis quanto nas universidades paraguaias, o que diria ele aos seus sucessores que vieram munidos da cruz e da espada para acabar com tudo o que não fosse cristão? Tendo lido um bocado sobre Cabeza de Vaca, acho que ele ficaria bem feliz!

Até hoje estou pensando por que nos chamam de América e Latina! É tão parco o latim nesta nossa terra de tantas línguas antigas!



Blumenau, 04 de junho de 2008.





Urda Alice Klueger

Escritora

[1] Panambi: (em guarani) = borboleta

[2] Cabeza de Vaca: Nobre espanhol que viveu muitas aventuras pelo continente americano, tendo naufragado, entre outros naufrágios, na costa de Santa Catarina/

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Lei e atitudes Contra o Infanticídio



Imagem:cartaz do Instituto Imersão Latina.

A presidente do Instituto Imersão Latina, Brenda mars, divulga o texto/apelo de E#LI, mulher da etnia ticuna,que denuncia uma antiga prática infanticida em tribos brasileiras (tambéwm na China e em outros países, -o infanticídio é usada contra o nascimento meninas,por exemplo,ou por motivos rituais-ossadas de antigas civilizações são encontradas e estudadas por arqueólogos e antropólogos).lemb ramos também a luta da líder Eliane Portiguara contra o assassinato de mulheres adultas e adolescentes.Vamos nos unir nessas lutas, onde o feminino ainda é a questão básica por sob os motivos vários, na maioria dos casos.Leia:


(Vejam mais assuntos indígenas no blog do Instituto Imersão Latina
www.imersaolatina.blogspot.com)


Lei contra o Infanticídio nas tribos indígenas pode mudar uma triste
realidade no Brasil

CAMPANHA LEI MUWAJI

"Quando meu sobrinho de 3 anos foi enterrado vivo, eu sofri muito.
Desejei morrer junto com ele. A gente sofre muito quando enterra
criança."

Makana Uru-eu-wau-wau Centenas de crianças indígenas foram rejeitadas
por suas comunidades e enterradas vivas no Brasil nos últimos anos.
Essa é uma prática antiga, encontrada ainda em mais de 20 povos
indígenas diferentes. Muitas dessas crianças são recém-nascidas.
Outras são mortas aos 3, 5, e até 11 anos de idade. Centenas delas são
condenadas à morte por serem portadoras de deficiências físicas ou
mentais, ou por serem gêmeas, ou filhas de mãe solteira. Muitas outras
são envenenadas ou abandonadas na floresta porque pessoas na
comunidade acreditam que elas trazem má sorte.

Meu nome é Eli e eu sou um líder indígena da etnia Ticuna, do
Amazonas. Como indígena, conheço muito bem a dor que essas famílias
enfrentam quando são forçadas pela tradição a sacrificar suas
crianças. Mas conheço também mulheres corajosas que enfrentam a
tradição e literalmente desenterram crianças que estavam condenadas à
morte. Essas mulheres, mesmo sem nunca terem estudado direitos
humanos, sabem que o direito à vida é muito mais importante que o
direito à preservação de uma tradição.

Por causa do sofrimento do meu povo indígena, e da coragem dos meus
parentes que se opõem ao infanticídio, eu me dispus a trabalhar na
elaboração de um projeto de lei. O primeiro esboço saiu da minha
cabeça. Numa segunda fase, contei com o apoio de uma equipe de
especialistas e de um deputado federal sensibilizado pela causa.

Eu como indígena e defensor dos direitos fundamentais, conclamo a
sociedade brasileira, índios e não-índios, a participar da Campanha
Lei Muwaji. A primeira coisa que eu peço é que você assista o
documentário HAKANI. É a história real de uma menina suruwaha que foi
enterrada viva, mas foi resgatada por seu irmão de nove anos. Você vai
se comover com a luta desse menino para salvar a vida de sua
irmãzinha.

Depois de assistir ao filme, ajude-nos a pressionar o governo para que
a Lei Muwaji seja votada com urgência. Faz exatamente um ano que o
projeto de lei está parado na Comissão de Direitos Humanos. Isso
mostra o total desinteresse do Congresso na causa indígena. Temos
menos de um mês para fazer com que a comissão vote o projeto, senão
ele vai cair no esquecimento. Nós precisamos da sua ajuda. Participe
da campanha e ajude-nos a superar essa prática terrível que ceifa a
vida de centenas de crianças inocentes.
Eli Ticuna

"Quando eu fui enterrada, fiquei muito tempo dentro do buraco. Eu
chorei muito, mas Deus me consolou e me deu uma família." Hakani, 12
anos

O que é a Lei Muwaji?

O PL 1057, projeto de lei apresentado pelo Deputado Henrique Afonso
(PT-AM) em 2007, foi batizado de Lei Muwaji em homenagem a essa mulher
indígena de coragem. Muwaji Suruwaha deveria ter sacrificado sua filha
Iganani, que nasceu com paralisia cerebral. Essa era a tradição do seu
povo. Mas ela se posicionou contra esse costume, enfrentou não só a
sua sociedade, mas toda a burocracia da sociedade nacional, para
garantir a vida e o tratamento médico de sua filha.

A Lei Muwaji, se for aprovada, vai garantir que os direitos das
crianças indígenas sejam protegidos com prioridade absoluta, como
preconiza a Constituição Brasileira, o ECA e todos os acordos
internacionais de Direitos Humanos, dos quais o Brasil é signatário.
Mas o projeto tem enfrentado desinteresse e até oposição de
parlamentares.

"Me desculpem, mas Direitos Humanos não vale para índio! Constituição
não vale para índio!"
(Deputado Francisco Praciano, em Audiência Pública sobre infanticídio
na Câmara dos Deputados, em junho de 2007)

AÇÕES PROPOSTAS

· Escreva uma mensagem curta exigindo que a lei seja votada nesse mês
de junho pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Você pode se basear no modelo abaixo, ou elaborar sua própria carta.
Coloque na carta seu nome, sua cidade e o número de sua identidade.

Exemplo de carta para autoridades:

"Recentemente tomei conhecimento do problema do infanticídio nas
comunidades indígenas, e da luta dos povos indígenas para vencer essa
prática. Considerando que todas as crianças brasileiras devem contar
com a proteção da Constituição Federal, do ECA e dos acordos
internacionais de Direitos da Criança, dos quais o Brasil é
signatário, solicito ao Exmo. Sr. que implemente com urgência os
passos necessários para que o PL 1057/2007, conhecido como Lei Muwaji,
seja votado na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados
ainda no mês de junho de 2008. Criança é criança, independente da
origem étnica. Toda criança tem direito inerente à vida."

Assinado: João Fulano de Tal, de Jibóia, MS
RG XXXXXXX

Envie para:

Presidente da Câmara dos Deputados
ARLINDO CHINAGLIA
dep.arlindochinaglia@camara.gov.br

Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados
POMPEO DE MATTOS
dep.pompeodemattos@camara.gov.br

Relatora do Projeto de Lei 1057 ( dia 29 de maio fez um ano que o PL
1057 foi entregue a ela, até hoje não se pronunciou...)
JANETE ROCHA PIETÁ
dep.janeterochapieta@camara.gov.br

Ministro da Justiça
TARSO GENRO
gabinetemj@mj.gov.br

· Envie mensagens para todos os deputados da Comissão de Direitos
Humanos. http://www2.camara.gov.br/comissoes/cdhm/membros.html

· Envie mensagens para todos os deputados federais do seu estado.
http://www2.camara.gov.br/deputados

· Organize uma sessão de exibição do filme Hakani, seguida de um
debate. Acesse www.atini.org para encontrar mais informações para o
debate. Se você precisar de alguém para ajudar no debate, entre em
contato – vozpelavida@gmail.com

· Coloque esse assunto no seu site, no seu blog, na sua comunidade orkut.

· Coloque o clipe do filme Hakani em seu site ou blog

· Organize uma manifestação popular, uma passeata, uma vigília num
local público, chame a mídia.

· MULTIPLIQUE SUA VOZ - envie esse material para sua lista de amigos e
contatos e multiplique essa campanha!!!!

IMPORTANTE!!! POR FAVOR NÃO FAÇA NENHUMA REFERÊNCIA À SUA ORGANIZAÇÃO
OU DENOMINAÇÃO EM SUA CAMPANHA – ESSA CAUSA É MUITO MAIOR DO QUE
QUALQUER INSTITUIÇÃO. MOVIMENTOS POPULARES TÊM MUITO MAIS VITALIDADE E
FORÇA. HAKANI E SEUS AMIGOS PRECISAM DA SUA AJUDA!!!!!!


Acesse: www.hakani.org e www.atini.org para mais informações sobre o assunto.


As informações acima foram divulgadas pela ONG ATINI - Voz Pela Vida.
Em 2007 o Imersão Latina iniciou uma parceria com o ATINI na luta
contra o infanticídio no Brasil. O Instituto Imersão Latina realiza o
projeto Criança Não é Brinquedo "Quem tem presente, pensa no futuro",
faz uma exposição fotográfica anual no mês de outubro, sempre em
parceria com alguma Organização Não-Governamental que trabalha
diretamente com crianças para divulgar o trabalho daqueles que
contribuem para melhorar a vida dos filhos da América Latina.
Fotógrafos que quiserem participar da exposição deste ano, enviem 5
fotos que retratem a infância nos países latino-americanos com título,
nome do fotógrafo com mini-currículo e local da fotografia para
info@imersaolatina.com. Caso você tenha algum estúdio de fotografia ou
recursos para apoiar na ampliação das fotos ou na divulgação deste
projeto, entre em contato conosco!

vejam a chamada da jornalista e poeta BRENDA MARQUES PENA,que preside o Instituto Imersão Latina e visitem o blog específico para assuntos latino-americanos e divulgação :



"Ajudem a divulgar esta iniciativa!!!

Instituto Imersão Latina
www.imersaolatina.com

"Pensou na América Latina? Aqui é o seu lugar! Este é um espaço diário
do Instituto Imersão Latina pra dinamizar nossa comunicação. Neste
blog, publicaremos o material que chega dos nossos colaboradores de
vários países e não conseguimos disponibilizar no
www.imersaolatina.com. O Instituto Imersão Latina é formado por
ativistas que se preocupam em defender nossa América e mostrar toda a
diversidade cultural, ambiental e de idéias que têm sido dizimadas por
falta de terreno na mídia convencional"

Brenda Marques Pena( a artista ,baterista e fotógrafa Brenda Mars)